As comunidades religiosas deveriam tomar uma posição sobre a Aids, advertem líderes religiosos com HIV.
10/08/2008 - 16h45
Com
o objetivo de "quebrar" o silêncio das comunidades religiosas e "lutar contra" o
aspecto moral da Aids, líderes
religiosos soropositivos fundaram a Inerela (Rede
Internacional de Líderes Religiosos Vivendo pessoalmente ou afetados pelo HIV/Aids) uma organização criada
na África e que agora está expandindo a sua representação na América Latina.
"Uma vez que a Aids é uma doença transmitida
principalmente por via sexual, por razões morais, as Igrejas, durante duas
décadas, se mantiveram distante do tema, mas já não podem seguir sem uma
posição", disse Ideraldo Luís Beltrame, ministro da Igreja Episcopal Anglicana
de São Paulo, Brasil, que assume abertamente ser homossexual e HIV positivo.
A
rede Inerela, criada há cinco anos na África, começou com três membros e
atualmente tem mais de 3 mil participantes de religiões tão diversas como hindu,
judaica, cristã, muçulmana, vudú, candomblé, anglicana, católica ou protestante.
O papel que a organização pretende cumprir, além de se expandir para outros
continentes, é o de prestar apoio espiritual às pessoas vivendo com HIV e mostrar que este vírus atinge todos
os setores da sociedade, inclusive o religioso.
"Atualmente, com o avanço da medicina, as pessoas
HIV-positivas encontram muita
ajuda nos anti-retrovirais, entretanto, há um vazio espiritual que as igrejas
não estão cobrindo e, por isso, os líderes religiosos devem assumir a luta
contra a Aids. As pessoas que
vivem com o HIV enfrentam
conflitos internos, uma vez que lhes é custoso manifestar a espiritualidade em
igrejas que expressam repulsa por considerá-los portadores de uma infecção
sexualmente transmissível”.
Thomas Dunmore, responsável pelos aspectos programáticos
da rede no México, garante que, muitas vezes, as religiões contribuem para o
aumento do estigma e da discriminação às pessoas que sofrem desta doença. Ele
acrescentou que todas os credos têm uma corrente liberal e outra conservadora,
inclusive a católica, por isso é necessário buscar essas vertentes mais abertas
e começar a inverter a discriminação dos líderes religiosos até às pessoas que
vivem com o HIV.
"Há
católicos com o HIV, só que,
devido ao seu perfil conservador, é mais difícil para eles tornarem público o
seu sofrimento. Por isso, aos nossos membros não perguntamos o seu status, eles
podem entrar na rede sem ser soropositivos. E àqueles que expressam ter o
HIV, não lhes perguntamos como se
infectaram, mas sim, como vivem com a Aids, para que deixem de ver a infecção
sob o aspecto moral e passem a encará-la sob o aspecto da doença.
Já
o ministro brasileiro, Ideraldo Luís Beltrame , disse que, além da luta contra o
estigma do HIV, este grupo
religioso pretende começar a quebrar outros preconceitos que muitas igrejas têm
com a diversidade sexual.
"Na
Igreja Anglicana, a qual pertenço, não há nenhuma regra canônica de celibato, de
modo que a sexualidade e o uso de preservativos são permitidos, mas existem
posições preconceituosas sobre homossexuais, lésbicas, bissexuais ou
tansgêneros. Nesses temas, também temos que chegar a um consenso",
concluiu.
Mariana Norandi
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ASSESSORIA DE
COMUNICAÇÃO
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AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA AIDS |
Editoria: | Pág. | Dia / Mês/Ano: |
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08/AGOSTO/08
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Religiosos com HIV lançam rede durante a XVII Conferência Internacional de Aids
7/8/2008 - 20h
INERELA+. Este é o nome da Rede Internacional de Líderes
Religiosos Afetados pelo HIV/Aids lançada na XVII Conferência
Internacional de Aids, no México.
Os líderes fizeram uma sessão satélite na noite da última quarta-feira (6) para
contarem suas experiências envolvendo religião e HIV/Aids. Entre eles, estava o brasileiro
Rafael Soares de Oliveira, secretário-executivo do Koinonia na Bahia e também
membro do terreiro Casa Branca, em Salvador, Bahia. “Viver é enfrentar
obstáculos, mas nunca estar só”, disse. “O candomblé não tem moralismo ou impõe
questões de comportamento. No caso do HIV, nós incentivamos a prevenção e o
tratamento, pois é necessário o corpo estar bem para ter uma boa comunicação com
a divindade”, explicou.
No
entanto, segundo ele, a própria religião enfrenta estigma e discriminação no
Brasil. “Sofremos acusações de sermos adoradores do diabo. A intolerância
religiosa é o maior problema”, disse. Segundo ele, este é um dos motivos que o
faz entender o estigma sofrido por portadores do HIV. “O maior problema é o fundamentalismo
por não ser cristão, isso virou uma questão cultural no Brasil (odiar religiões
africanas). Quem é portador do HIV enfrenta o estigma do vírus e também
da religião”, comentou.
Ele
disse em entrevista também que a Casa Branca está sendo perseguida pela
prefeitura por não pagar impostos, mas que a mesma é protegida por um patrimônio
histórico.
Já
Gracia Quiroga, da Rede Boliviana de Pessoas Vivendo com HIV/Aids, também participou do evento e
mostrou-se preocupada com algumas religiões. “As vezes certas religiões pregam
que um portador não deve tomar remédios e pode se curar pela religião.
Principalmente algumas neo-pentecostais fazem isso”, disse. Ela acredita que a
rede servirá para diminuir o sentimentos de culpa sobre os líderes e também
portadores do HIV, além de
discutir estratégias para a aceitação da Aids em religiões.
A
Koinonia é uma Associação sem fins lucrativos, formada por pessoas de igrejas
cristãs e de outras expressões de fé, além de líderes do movimento social. Tem
como princípio fundamental o compromisso com o ecumenismo e a democracia tendo
em vista a luta em favor da cidadania, contra qualquer forma de exclusão
social.
O
presidente da rede INERELA+ é o reverendo James Matarazzo.
Rodrigo Vasconcellos, Cidade do México
A
Agência de Notícias da Aids,
cobre a XVII Conferência Internacional de Aids com o apoio da Bristol-Myers Squibb,
Boehringer Ingelheim, Merck e Pfizer