segunda-feira, 11 de agosto de 2008

As comunidades religiosas deveriam tomar uma posição sobre a Aids, advertem líderes religiosos com HIV.



As comunidades religiosas deveriam tomar uma posição sobre a Aids, advertem líderes religiosos com HIV.

10/08/2008 - 16h45
Com o objetivo de "quebrar" o silêncio das comunidades religiosas e "lutar contra" o aspecto moral da Aids, líderes religiosos soropositivos fundaram a Inerela (Rede Internacional de Líderes Religiosos Vivendo pessoalmente ou afetados pelo HIV/Aids) uma organização criada na África e que agora está expandindo a sua representação na América Latina.
"Uma vez que a Aids é uma doença transmitida principalmente por via sexual, por razões morais, as Igrejas, durante duas décadas, se mantiveram distante do tema, mas já não podem seguir sem uma posição", disse Ideraldo Luís Beltrame, ministro da Igreja Episcopal Anglicana de São Paulo, Brasil, que assume abertamente ser homossexual e HIV positivo.
A rede Inerela, criada há cinco anos na África, começou com três membros e atualmente tem mais de 3 mil participantes de religiões tão diversas como hindu, judaica, cristã, muçulmana, vudú, candomblé, anglicana, católica ou protestante. O papel que a organização pretende cumprir, além de se expandir para outros continentes, é o de prestar apoio espiritual às pessoas vivendo com HIV e mostrar que este vírus atinge todos os setores da sociedade, inclusive o religioso.
"Atualmente, com o avanço da medicina, as pessoas HIV-positivas encontram muita ajuda nos anti-retrovirais, entretanto, há um vazio espiritual que as igrejas não estão cobrindo e, por isso, os líderes religiosos devem assumir a luta contra a Aids. As pessoas que vivem com o HIV enfrentam conflitos internos, uma vez que lhes é custoso manifestar a espiritualidade em igrejas que expressam repulsa por considerá-los portadores de uma infecção sexualmente transmissível”.
Thomas Dunmore, responsável pelos aspectos programáticos da rede no México, garante que, muitas vezes, as religiões contribuem para o aumento do estigma e da discriminação às pessoas que sofrem desta doença. Ele acrescentou que todas os credos têm uma corrente liberal e outra conservadora, inclusive a católica, por isso é necessário buscar essas vertentes mais abertas e começar a inverter a discriminação dos líderes religiosos até às pessoas que vivem com o HIV.
"Há católicos com o HIV, só que, devido ao seu perfil conservador, é mais difícil para eles tornarem público o seu sofrimento. Por isso, aos nossos membros não perguntamos o seu status, eles podem entrar na rede sem ser soropositivos. E àqueles que expressam ter o HIV, não lhes perguntamos como se infectaram, mas sim, como vivem com a Aids, para que deixem de ver a infecção sob o aspecto moral e passem a encará-la sob o aspecto da doença.
Já o ministro brasileiro, Ideraldo Luís Beltrame , disse que, além da luta contra o estigma do HIV, este grupo religioso pretende começar a quebrar outros preconceitos que muitas igrejas têm com a diversidade sexual.
"Na Igreja Anglicana, a qual pertenço, não há nenhuma regra canônica de celibato, de modo que a sexualidade e o uso de preservativos são permitidos, mas existem posições preconceituosas sobre homossexuais, lésbicas, bissexuais ou tansgêneros. Nesses temas, também temos que chegar a um consenso", concluiu.
Mariana Norandi

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA AIDS

Editoria: Pág. Dia / Mês/Ano:
08/AGOSTO/08

Religiosos com HIV lançam rede durante a XVII Conferência Internacional de Aids

7/8/2008 - 20h
INERELA+. Este é o nome da Rede Internacional de Líderes Religiosos Afetados pelo HIV/Aids lançada na XVII Conferência Internacional de Aids, no México. Os líderes fizeram uma sessão satélite na noite da última quarta-feira (6) para contarem suas experiências envolvendo religião e HIV/Aids. Entre eles, estava o brasileiro Rafael Soares de Oliveira, secretário-executivo do Koinonia na Bahia e também membro do terreiro Casa Branca, em Salvador, Bahia. “Viver é enfrentar obstáculos, mas nunca estar só”, disse. “O candomblé não tem moralismo ou impõe questões de comportamento. No caso do HIV, nós incentivamos a prevenção e o tratamento, pois é necessário o corpo estar bem para ter uma boa comunicação com a divindade”, explicou.
No entanto, segundo ele, a própria religião enfrenta estigma e discriminação no Brasil. “Sofremos acusações de sermos adoradores do diabo. A intolerância religiosa é o maior problema”, disse. Segundo ele, este é um dos motivos que o faz entender o estigma sofrido por portadores do HIV. “O maior problema é o fundamentalismo por não ser cristão, isso virou uma questão cultural no Brasil (odiar religiões africanas). Quem é portador do HIV enfrenta o estigma do vírus e também da religião”, comentou.
Ele disse em entrevista também que a Casa Branca está sendo perseguida pela prefeitura por não pagar impostos, mas que a mesma é protegida por um patrimônio histórico.
Já Gracia Quiroga, da Rede Boliviana de Pessoas Vivendo com HIV/Aids, também participou do evento e mostrou-se preocupada com algumas religiões. “As vezes certas religiões pregam que um portador não deve tomar remédios e pode se curar pela religião. Principalmente algumas neo-pentecostais fazem isso”, disse. Ela acredita que a rede servirá para diminuir o sentimentos de culpa sobre os líderes e também portadores do HIV, além de discutir estratégias para a aceitação da Aids em religiões.
A Koinonia é uma Associação sem fins lucrativos, formada por pessoas de igrejas cristãs e de outras expressões de fé, além de líderes do movimento social. Tem como princípio fundamental o compromisso com o ecumenismo e a democracia tendo em vista a luta em favor da cidadania, contra qualquer forma de exclusão social.
O presidente da rede INERELA+ é o reverendo James Matarazzo.
Rodrigo Vasconcellos, Cidade do México
A Agência de Notícias da Aids, cobre a XVII Conferência Internacional de Aids com o apoio da Bristol-Myers Squibb, Boehringer Ingelheim, Merck e Pfizer