quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Discurso de Mãe Carmen de Oxalá no Seminário Estadual Religião e Aids


Fala de Mãe Carmen de Oxalá Representando a 
Religiões de Matriz Africana
Autora : Mãe Carmen de Oxalá
Carmen Lucia Silva de Oliveira, Graduação incompleta em Psicologia 


Ki alaafia Orisanla Ni lai lai laarim Wa.
Ago Babas mi  e Yás ,mi , omo orisas, presentes nesse seminário.

Saudações as autoridades presentes representantes diversas religiões.

 Agradeço especialmente à  Secretaria da Saúde e a Secção Dst/ Aids e a comissão organizadora do I Seminário Religiões e Aids, pelo convite de estarmos participando da construção  do mesmo.  Hoje fui surpreendida ao ser solicitada a responder algumas perguntas para a Rádio Band , onde o Jornalista fez o seguinte questionamento. Como a  Matriz Africana analisa esse momento que antecede ao  o evento inédito que é o I seminário religiões e Aids.

Respondi que  para nós religiosos esse seminário é  considerado  uma oportunidade de apresentar o outro lado o lado que não é divulgado e muito menos comentado na mídia,  que as religiões de matriz africana  contribuíram para o Brasil em todos os aspectos principalmente quando se referem   ao meio ambiente,  segurança alimentar   as questões de acolhida e saúde em todos os aspectos. 

Também me fez  reconhecer  que o inédito  foi sermos  convidados pela secretaria para participarmos das reuniões preparatórias  e a preocupação  manifestada por eles  para que os pais e Mães de santo se fizessem presentes nesse evento. Com isso identifico a coerência entra a ação dos profissionais da saúde e  determinação da lei nº 8142/90 que trata da participação da sociedade, e tem a finalidade de alterar a desigualdade na assistência a saúde da população, me refiro a constituição cidadã, que contempla um olhar respeitoso as especificidades dos índios e negros, entre essas especificidades é obvio que está integrado os povos de terreiros de matriz afro. 
Nós vivenciadores, acreditamos no orixá e  o axé, parafraseando Prandi.
 
"Axé é força vital, energia, princípio da vida, força sagrada dos orixás. Axé é o nome que se dá às partes dos animais que contêm essas forças da natureza viva, que também estão nas folhas, sementes e nos frutos sagrados. Axé é bênção, cumprimento, votos de boa-sorte e sinônimo de Amém. Axé é poder. Axé é o conjunto material de objetos que representam os deuses quando estes são assentados, fixados nos seus altares particulares para ser cultuados. São as pedras e os ferros dos orixás, suas representações materiais, símbolos de uma sacralidade tangível e imediata. Axé é carisma, é sabedoria nas coisas-do-santo, é senioridade. Axé se tem, se usa, se gasta, se repõe, se acumula. Axé é origem, é a raiz que vem dos antepassados, é a comunidade do terreiro. Os grandes portadores de axé, que são as veneráveis mães e os veneráveis pais-de-santo, podem transmitir axé pela imposição das mãos; pela saliva, que com a palavra sai da boca; pelo suor do rosto, que os velhos orixás em transe limpam de sua testa com as mãos e, carinhosamente, esfregam nas faces dos filhos prediletos. Axé se ganha e se perde. (Extraído de Reginaldo Prandi, Os candomblés de São Paulo.) "
Reginaldo Prandi
(São Paulo, Hucitec, 1997, páginas 1-50)

Com  isso quero dizer-lhes que é  oportuno trazer esse entendimento porque nem todos  sabem ou entendem assim  a nossa visão de mundo e  quando ocorre esse não entendimento sofremos de exclusão.  Por fim Identifico que os pilares da construção deste evento está fundamentado nós princípios de universalidade, integralidade equidade e  descentralização. Que o Axé  dos orixás nos conduza a uma boa construção deste capitulo histórico e  obrigado  por sua atenção.
Parabéns a todos.

Carta do Rio Grande do Sul - I Seminário Aids e Religião


Carta do Estado do Rio Grande do Sul

Reunidos(as) em Porto Alegre, em outubro de 2008, no Seminário Aids e Religião do Rio Grande do Sul,
promovido pela Seção de Controle das DST/Aids da Secretaria de Saúde do Estado,

Nós, integrantes de diversas matrizes religiosas;
Nós, profissionais de saúde;
Nós, ativistas das organizações não governamentais de luta contra a Aids;
Nós, pessoas vivendo com HIV/Aids;

Saudamos esta iniciativa, com três dias de estudos e debates que mostraram desafios e caminhos a seguir
na construção de respostas das religiões à Aids, buscando sintonia entre os valores das tradições religiosas
e os princípios que orientam a política pública de saúde, em especial os princípios do sistema único de
saúde - SUS.

Em comum acordo, estabelecemos as iniciativas abaixo para construir uma resposta à Aids inclusiva e
solidária:
• Ampliar os canais de diálogo respeitoso entre as tradições religiosas, os profissionais de saúde pública,
os integrantes das ONGS/Aids e as pessoas vivendo com HIV/Aids na promoção do cuidado integral
ao portador do HIV/Aids.
• Construir estratégias de prevenção à Aids dirigidas a toda a sociedade e a grupos vulneráveis
específicos, a partir dos valores de cada tradição religiosa, dos princípios dos direitos humanos e dos
conhecimentos científicos disponíveis.
• Promover formação e estudo sobre Aids, sexualidade e estruturação do SUS, reunindo representantes
das diversas matrizes religiosas, profissionais de saúde, ONGs/Aids e das pessoas vivendo com HIV/
Aids, que permitam maior capacitação para o enfrentamento da epidemia.
• FORMAR agentes multiplicadores entre as pessoas vinculadas às diferentes matrizes religiosas.
• Elaborar materiais que abordem a questão da Aids em linguagem apropriada a cada tradição religiosa.
• Nos comprometemos firmemente a sensibilizar os membros das nossas tradições religiosas, nossos
profissionais de saúde, nossos companheiros das ONGS/Aids e pessoas vivendo com HIV/Aids para a
importância das questões de ordem espiritual e do pertencimento religioso na prevenção da Aids e no
cuidado ao indivíduo soropositivo.

De modo prático e concreto, consideramos fundamental:

1 - a criação, a partir da comissão organizadora deste Seminário, de um grupo de trabalho Aids e Religião,
com participação de representantes das matrizes religiosas, dos gestores de saúde, das organizações não
governamentais que trabalham com a temática e das pessoas vivendo com HIV/Aids.
2 - a estruturação de uma rede estadual de pessoas e instituições engajadas na construção do diálogo inter-
religioso sobre Aids e dos temas ligados à sexualidade.
3 - a realização de eventos no tema Aids e religiões em municípios pólo do Rio Grande do Sul, ao longo do
ano de 2009.
4 - a realização do 2º Seminário Aids e Religião do Rio Grande do Sul no ano de 2010.
5 - a publicação do conjunto das contribuições e reflexões elaboradas neste Seminário.
6 - a inclusão de ações e metas que dêem conta do tema Aids e Religião nos planejamentos de municípios e do
Estado do Rio Grande do Sul, com o apoio do PN-DST/Aids.
7 - o mapeamento das ações que as diversas matrizes religiosas já estão realizando no estado do Rio Grande
do Sul na prevenção e no apoio ao individuo com HIV/Aids.
Mais importante do que nossas diferenças de crença e de tradição religiosa, afirmamos que nos une a luta em
favor da qualidade de vida para todos.

Reafirmamos que a vida é mais forte que a Aids.

Decidimos encaminhar a presente carta ao Conselho Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, para que paute
o tema da importância das diversas matrizes religiosas nas políticas de saúde, em uma de suas reuniões.
Estimulamos que em cada município, do mesmo modo, se possa discutir o tema nos conselhos locais e junto
aos gestores.

Porto Alegre 21 a 22 de outubro 2008

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

As comunidades religiosas deveriam tomar uma posição sobre a Aids, advertem líderes religiosos com HIV.



As comunidades religiosas deveriam tomar uma posição sobre a Aids, advertem líderes religiosos com HIV.

10/08/2008 - 16h45
Com o objetivo de "quebrar" o silêncio das comunidades religiosas e "lutar contra" o aspecto moral da Aids, líderes religiosos soropositivos fundaram a Inerela (Rede Internacional de Líderes Religiosos Vivendo pessoalmente ou afetados pelo HIV/Aids) uma organização criada na África e que agora está expandindo a sua representação na América Latina.
"Uma vez que a Aids é uma doença transmitida principalmente por via sexual, por razões morais, as Igrejas, durante duas décadas, se mantiveram distante do tema, mas já não podem seguir sem uma posição", disse Ideraldo Luís Beltrame, ministro da Igreja Episcopal Anglicana de São Paulo, Brasil, que assume abertamente ser homossexual e HIV positivo.
A rede Inerela, criada há cinco anos na África, começou com três membros e atualmente tem mais de 3 mil participantes de religiões tão diversas como hindu, judaica, cristã, muçulmana, vudú, candomblé, anglicana, católica ou protestante. O papel que a organização pretende cumprir, além de se expandir para outros continentes, é o de prestar apoio espiritual às pessoas vivendo com HIV e mostrar que este vírus atinge todos os setores da sociedade, inclusive o religioso.
"Atualmente, com o avanço da medicina, as pessoas HIV-positivas encontram muita ajuda nos anti-retrovirais, entretanto, há um vazio espiritual que as igrejas não estão cobrindo e, por isso, os líderes religiosos devem assumir a luta contra a Aids. As pessoas que vivem com o HIV enfrentam conflitos internos, uma vez que lhes é custoso manifestar a espiritualidade em igrejas que expressam repulsa por considerá-los portadores de uma infecção sexualmente transmissível”.
Thomas Dunmore, responsável pelos aspectos programáticos da rede no México, garante que, muitas vezes, as religiões contribuem para o aumento do estigma e da discriminação às pessoas que sofrem desta doença. Ele acrescentou que todas os credos têm uma corrente liberal e outra conservadora, inclusive a católica, por isso é necessário buscar essas vertentes mais abertas e começar a inverter a discriminação dos líderes religiosos até às pessoas que vivem com o HIV.
"Há católicos com o HIV, só que, devido ao seu perfil conservador, é mais difícil para eles tornarem público o seu sofrimento. Por isso, aos nossos membros não perguntamos o seu status, eles podem entrar na rede sem ser soropositivos. E àqueles que expressam ter o HIV, não lhes perguntamos como se infectaram, mas sim, como vivem com a Aids, para que deixem de ver a infecção sob o aspecto moral e passem a encará-la sob o aspecto da doença.
Já o ministro brasileiro, Ideraldo Luís Beltrame , disse que, além da luta contra o estigma do HIV, este grupo religioso pretende começar a quebrar outros preconceitos que muitas igrejas têm com a diversidade sexual.
"Na Igreja Anglicana, a qual pertenço, não há nenhuma regra canônica de celibato, de modo que a sexualidade e o uso de preservativos são permitidos, mas existem posições preconceituosas sobre homossexuais, lésbicas, bissexuais ou tansgêneros. Nesses temas, também temos que chegar a um consenso", concluiu.
Mariana Norandi

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA AIDS

Editoria: Pág. Dia / Mês/Ano:
08/AGOSTO/08

Religiosos com HIV lançam rede durante a XVII Conferência Internacional de Aids

7/8/2008 - 20h
INERELA+. Este é o nome da Rede Internacional de Líderes Religiosos Afetados pelo HIV/Aids lançada na XVII Conferência Internacional de Aids, no México. Os líderes fizeram uma sessão satélite na noite da última quarta-feira (6) para contarem suas experiências envolvendo religião e HIV/Aids. Entre eles, estava o brasileiro Rafael Soares de Oliveira, secretário-executivo do Koinonia na Bahia e também membro do terreiro Casa Branca, em Salvador, Bahia. “Viver é enfrentar obstáculos, mas nunca estar só”, disse. “O candomblé não tem moralismo ou impõe questões de comportamento. No caso do HIV, nós incentivamos a prevenção e o tratamento, pois é necessário o corpo estar bem para ter uma boa comunicação com a divindade”, explicou.
No entanto, segundo ele, a própria religião enfrenta estigma e discriminação no Brasil. “Sofremos acusações de sermos adoradores do diabo. A intolerância religiosa é o maior problema”, disse. Segundo ele, este é um dos motivos que o faz entender o estigma sofrido por portadores do HIV. “O maior problema é o fundamentalismo por não ser cristão, isso virou uma questão cultural no Brasil (odiar religiões africanas). Quem é portador do HIV enfrenta o estigma do vírus e também da religião”, comentou.
Ele disse em entrevista também que a Casa Branca está sendo perseguida pela prefeitura por não pagar impostos, mas que a mesma é protegida por um patrimônio histórico.
Já Gracia Quiroga, da Rede Boliviana de Pessoas Vivendo com HIV/Aids, também participou do evento e mostrou-se preocupada com algumas religiões. “As vezes certas religiões pregam que um portador não deve tomar remédios e pode se curar pela religião. Principalmente algumas neo-pentecostais fazem isso”, disse. Ela acredita que a rede servirá para diminuir o sentimentos de culpa sobre os líderes e também portadores do HIV, além de discutir estratégias para a aceitação da Aids em religiões.
A Koinonia é uma Associação sem fins lucrativos, formada por pessoas de igrejas cristãs e de outras expressões de fé, além de líderes do movimento social. Tem como princípio fundamental o compromisso com o ecumenismo e a democracia tendo em vista a luta em favor da cidadania, contra qualquer forma de exclusão social.
O presidente da rede INERELA+ é o reverendo James Matarazzo.
Rodrigo Vasconcellos, Cidade do México
A Agência de Notícias da Aids, cobre a XVII Conferência Internacional de Aids com o apoio da Bristol-Myers Squibb, Boehringer Ingelheim, Merck e Pfizer