Fala de Mãe Carmen de Oxalá Representando a
Religiões de Matriz Africana
Autora : Mãe Carmen de Oxalá
Carmen Lucia Silva de Oliveira, Graduação incompleta em Psicologia
Ki alaafia Orisanla Ni lai lai laarim Wa.
Ago Babas mi e Yás ,mi , omo orisas, presentes nesse seminário.
Saudações as autoridades presentes representantes diversas religiões.
Agradeço especialmente à Secretaria da Saúde e a Secção Dst/ Aids e a comissão organizadora do I Seminário Religiões e Aids, pelo convite de estarmos participando da construção do mesmo. Hoje
fui surpreendida ao ser solicitada a responder algumas perguntas para a
Rádio Band , onde o Jornalista fez o seguinte questionamento. Como a Matriz Africana analisa esse momento que antecede ao o evento inédito que é o I seminário religiões e Aids.
Respondi que para nós religiosos esse seminário é considerado uma oportunidade de apresentar o outro lado o lado que não é divulgado e muito menos comentado na mídia, que as religiões de matriz africana contribuíram para o Brasil em todos os aspectos principalmente quando se referem ao meio ambiente, segurança alimentar as questões de acolhida e saúde em todos os aspectos.
Também me fez reconhecer que o inédito foi sermos convidados pela secretaria para participarmos das reuniões preparatórias e a preocupação manifestada por eles para
que os pais e Mães de santo se fizessem presentes nesse evento. Com
isso identifico a coerência entra a ação dos profissionais da saúde e determinação
da lei nº 8142/90 que trata da participação da sociedade, e tem a
finalidade de alterar a desigualdade na assistência a saúde da
população, me refiro a constituição cidadã, que contempla um olhar
respeitoso as especificidades dos índios e negros, entre essas
especificidades é obvio que está integrado os povos de terreiros de matriz afro.
Nós
vivenciadores, acreditamos no orixá e o axé, parafraseando Prandi.
"Axé é força vital, energia, princípio da vida, força sagrada dos orixás. Axé é o nome que se dá às partes dos animais que contêm essas forças da natureza viva, que também estão nas folhas, sementes e nos frutos sagrados. Axé é bênção, cumprimento, votos de boa-sorte e sinônimo de Amém. Axé é poder. Axé é o conjunto material de objetos que representam os deuses quando estes são assentados, fixados nos seus altares particulares para ser cultuados. São as pedras e os ferros dos orixás, suas representações materiais, símbolos de uma sacralidade tangível e imediata. Axé é carisma, é sabedoria nas coisas-do-santo, é senioridade. Axé se tem, se usa, se gasta, se repõe, se acumula. Axé é origem, é a raiz que vem dos antepassados, é a comunidade do terreiro. Os grandes portadores de axé, que são as veneráveis mães e os veneráveis pais-de-santo, podem transmitir axé pela imposição das mãos; pela saliva, que com a palavra sai da boca; pelo suor do rosto, que os velhos orixás em transe limpam de sua testa com as mãos e, carinhosamente, esfregam nas faces dos filhos prediletos. Axé se ganha e se perde. (Extraído de Reginaldo Prandi, Os candomblés de São Paulo.) "
Reginaldo Prandi
(São Paulo, Hucitec, 1997, páginas 1-50)
Parabéns a todos.